30 de jul. de 2010

PAIXÃO

De todos os mal-entendidos a respeito do amor, o mais poderoso e mais difundido refere-se a crença de que "apaixonar-se" é amar ou, pelo menos, é uma das manifestações do amor. Este mal entendido é poderoso porque apaixonar-se é uma experiência subjetiva empolgante, que se assemelha a uma experiência amorosa. quando uma pessoa se apaixona, certamente sente que ama. Mas aqui surgem dois problemas. O primeiro é que a experiência de se apaixonar é erótica e ligada ao sexo. Não nos apaixonamos pelos nossos filhos, por muito que gostemos deles. Nem pelos amigos do mesmo sexo - a não ser que tenhamos inclinação para homossexualidade. Só nos apaixonamos quando estamos conscientes ou inconscientemente motivados sexualmente. O segundo problema é que a paixão não dura. Quem quer que seja o objeto da paixão, mais cedo ou mais tarde nos desapaixonamos dele, se é que o relacionamento perdura.
Isto não significa que deixemos de amar, mas sim que o sentimento extasiante de amor, característico da experiência da paixão, não perdura.
Existe um fenômeno interessante chamado de "limite do ego", que é ultrapassado quando uma criança compreende instintivamente que sua mãe não é mais seus braços, suas pernas, seus olhos, etc.. pois nesse momento ela começa a caminhar sozinha e se mover por si mesma. Ela começa a experimentar a própria pessoa como uma identidade separada do mundo. Quando adulta começa a perceber o mundo exterior como perigoso, hostil, desconcertante e agressivo. São pessoas que sentem seus limites como uma proteção e conforto. Encontram neles um senso de segurança, em seu isolamento. Mas a maioria sente o isolamento como tristeza e anseia para retornar e sair dos limites da identidade individual. Desejam condições em que se possam sentir mais unidos ao mundo exterior. A experiência da paixão nos proporciona esta fuga, mas temporariamente. A Essência do fenômeno da paixão é uma fuga para sair da individualidade para retornar ao conforto do controle da mãe. Isto permite a fusão da identidade com a da outra pessoa que é o objeto da paixão. A súbita libertação da pessoa de si mesma, e o dramático alívio da solidão, que acompanha este processo, isso tudo é experimentado como um êxtase. Formar uma só pessoa! Libertar-se da solidão, isso é paixão.

M. Scott Peck

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